Sob o Signo do Divino Espírito Santo
O desenvolvimento do culto ao Espírito Santo está ligado a Joaquim de Fiore, abade italiano, nascido no século XII, que acreditava num novo aparecimento do Espírito Santo, que daria lugar à Era do Espírito.
- Horta
- 3 dias
- Meses recomendados para a visita janeiro - dezembro
- Locais visíveis do exterior e alguns locais sujeitos a horário
- Nível de dificuldade baixo
Contexto histórico
Influenciada pelas tradições espanholas em honra do Divino Espírito Santo, a Rainha Santa Isabel, de Aragão, ao vir para Portugal para casar com o Rei D. Dinis, instaurou, em 1296 no concelho de Alenquer, a Irmandade do Espírito Santo. Naquela época, a celebração era feita na capela real, à qual todos os pobres eram convidados a assistir. O bispo colocava a coroa real nas cabeças dessas pessoas, procedendo, assim, à coroação em louvor do Espírito Santo.
De seguida, era realizado um banquete real, vontade do rei e da rainha em servir os mais desfavorecidos, o chamado “bodo dos pobres”. Mais tarde, em 1432, iniciou-se o povoamento dos Açores. Por ação dos frades franciscanos que vinham com a responsabilidade de estabelecer a religião católica na região e que trouxeram consigo os ideais de Fiore, a tradição de culto ao Espírito Santo expandiu-se e, ainda hoje, se mantém bem viva, até nas comunidades de emigrantes açorianos.
As tradições de culto ao Espírito Santo acontecem nos meses de Maio e Junho, quando acontecem os dois Domingos do Bodo, precisamente o de Pentecostes e o da Trindade
Coroação
Embora existam momentos em que a Festa vai à Igreja, como o da Coroação, os festejos do Império acontecem, em regra, fora dos templos, tendo como base o local onde a coroa se encontra, seja o edifício do Império, seja a casa do mordomo ou Imperador.
No domingo, de manha, realiza-se a procissão, que sai da casa do Imperador ou do Império com todas as insígnias do culto (a coroa, o cetro, a salva, varas e bandeiras), até à Igreja, onde se realiza a cerimónia da Coroação. Quando termina a celebração, inicia-se uma nova procissão até ao local onde se realiza o almoço, ou até ao Império.
Formato da massa
A par do pão de trigo, em muitos casos regalo raro da boca, nas ilhas onde muito do cereal era usado em paga de rendas e foros ou embarcado para fora delas, a massa sovada aparece como algo de maior requinte. No Faial, ao que parece caso único, os pães são cozidos no forno, como de costume, mas em formas retangulares. A abundância necessária aos Bodos leva a que, fora de época, seja natural encontrar, empilhadas e guardadas, várias dezenas de formas, vazias, esperando o novo ano e o novo ciclo de festas e alegria.
É possível comprar desta massa sovada, em vários lugares, nomeadamente na Praia do Norte
Império dos Nobres
O Império de Reconhecimento e Beneficência, vulgarmente conhecido como Império dos Nobres, surgiu em consequência da crise e erupção de 1672, acontecida junto da freguesia da Praia do Norte. A crise foi longa e violenta e, a 18 de Maio desse ano, a Câmara Municipal da Horta oficializou um voto de que, “Em dia do Senhor Espírito Santo, todos os anos e enquanto o Mundo durar, sairá uma procissão solene, ordenada pelos oficiais da Câmara, da Igreja Matriz à Igreja da Misericórdia” os gastos correriam por conta da Câmara. Quase 100 anos depois, em 1760, o edifício foi erguido, em memória dessa erupção e consolidando o voto. O nome deriva das despesas da festa serem inicialmente suportadas pelos nobres.
A Câmara pagava as despesas da procissão e os nobres as despesas da festividade
A Coroa dos Cedros
Muitos chamam-lhe a Coroa Real e, de facto, sem as habituais imperiais, fechando em cima, assim é. A coroa dos Cedros, trabalho de cinzel lindo, além de ligada a uma história muito interessante, mostra, nessa característica de coroa aberta, a antiguidade das Festas do Divino. Conta-se que foi deixada para trás por um rei mouro, durante um assalto pirata à ilha. Descoberta a falta o rei voltou em busca dela, desta vez disfarçado de marinheiro comum.
A desconfiança, porém, instalou-se pelo perguntar insistente, e uma mulher, dos Cedros, que a havia achado, escondeu-a, enfiando-a numa perna como se enfia um anel num dedo. Sabendo o valor e querendo ficar com ela, deixou-a na perna, tempo demais, e tirar já não foi possível. A perna inchou e tiveram de a cortar, soldando-a, depois, coisa que ainda se pode ver. Usada pelo povo como coroa do Divino, acabaram por fazer uma réplica, mais recentemente, permanecendo a antiga em casa do mordomo de cada ano. É questão de perguntar.